(Encefalopatia Crônica não Progressiva)

A definição de Paralisia Cerebral aceita na Sociedade Internacional de Paralisia Cerebral, é o termo usado para designar um grupo de desordens motoras, não progressivas, porém sujeita a mudanças, resultante de uma lesão no cérebro, nos primeiros estágios do desenvolvimento. (SILVA, 2006)

Esta lesão pode ocorrer antes, durante ou após o nascimento (SOUZA e FERRARETTO, 1998):

  • Causas pré-natais (antes do parto) – doenças infecciosas durante a gravidez: rubéola, sífilis, toxoplasmose, citomegalovirose e síndrome da imunodeficiência adquirida; uso de drogas, tabagismo, álcool, desnutrição materna, alterações cardiovasculatórias maternas, exposição à radiação, anóxia intra-uterina.
  • Causas peri-natais (durante o parto): parto prematuro, longo, a fórceps, hemorragias cerebrais causadas por estreitamento da bacia, oxigenação insuficiente para o cérebro (prolapso do cordão umbilical).
  • Causas pós-natais (do nascimento até o final da maturação do Sistema Nervoso, mais ou menos 3 anos de idade): infecções no cérebro (encefalite, meningite), intoxicações (medicamentosas, anestésicas, de radiação), temperatura corpórea alta (reduz a entrada de oxigênio no cérebro), desnutrição, traumatismo crânio-encefálico (TCE), convulsões.

As crianças com PC têm como principal característica o comprometimento motor, que influencia no seu desempenho funcional. De acordo com Souza & Ferraretto (1998), a PC pode ser classificada por dois critérios: pelo tipo de disfunção motora presente, ou seja, o quadro clínico resultante, que inclui os tipos extrapiramidal ou discinético (atetóide, coréico e distônico), atáxico, espástico e misto; e pela topografia dos prejuízos, ou seja, localização do corpo afetado, que inclui tetraplegia ou quadriplegia, monoplegia, paraplegia ou diplegia e hemiplegia. Na PC, a forma espástica é a mais encontrada e freqüente em 88% dos casos. (LEITE e PRADO, 2004)

  • DISFUNÇÃO MOTORA (SOUZA e FERRARETTO, 1998):

TIPO EXTRAPIRAMIDAL: lesão cerebral localizada no trato extrapiramidal. Ocorre em cerca de 20% dos casos de crianças com PC e caracteriza-se por movimentos involuntários atetósicos – contínuos uniformes e lentos; e coreicos – rápidos arrítmicos e de inicio súbito. A criança com este tipo de PC vai apresentar movimentos intermitentes de torção devido à contração simultânea do grupo agonista e antagonista. A PC com movimentos involuntários está geralmente associada à lesão dos gânglios de base (núcleos localizados no centro do cérebro e são formados pelo corpo dos neurônios do trato extrapiramidal, quase sempre causada por hiperbilirrubinemia neonatal).

Os movimentos involuntários podem ser leves ou acentuados e são raramente observados durante o primeiro ano de vida. Nas formas mais graves, antes desta idade a criança apresenta hipotonia (tônus muscular diminuído) e o desenvolvimento motor é bastante atrasado. Muitas crianças não são capazes de falar, andar ou realizar movimentos voluntários funcionais e são, portanto, dependentes para a alimentação, locomoção e higiene. As emoções fortes podem agravar o quadro clínico, os movimentos cessam durante o sono.

TIPO ATÁXICO: está relacionado com lesões cerebelares ou das vias cerebelares. Ocorre em cerca de 10% das crianças com PC. Como a função principal do cerebelo é controlar o equilíbrio e coordenar os movimentos, as crianças com lesão cerebelar apresentam uma marcha cambaleante por causa do déficit de equilíbrio, e apresentam, ainda, incoordenação dos movimentos com incapacidade para realizar movimentos alternados, rápidos e dificuldade para atingir um alvo. Quando a lesão é muito extensa, o atraso do desenvolvimento motor é importante e é possível que a criança nunca seja capaz de andar sem apoio. Assim como nas formas extrapiramidais de PC, durante o primeiro ano de vida, a alteração observada é a hipotonia. A alteração mais freqüentemente encontrada é a ataxia associada a sinais piramidais (tônus muscular aumentado e reflexos tendinosos exacerbados). A ataxia pura em crianças com PC é rara.

TIPO ESPÁSTICO: é o mais freqüente ocorre em cerca de 70 a 80% dos casos. Caracteriza-se por um aumento do tônus e uma diminuição da força muscular. O aumento do tônus nos membros afetados pode ser sentido à palpação ou como um aumento da resistência ao movimento do membro afetado. Ocorre por lesão no trato piramidal (córtex cerebral), área do cérebro responsável pelo início dos movimentos osteo-articulares uma vez que os músculos afetados não têm um desenvolvimento normal.

TIPO MISTO: ocorre em muitos casos de crianças com PC, e é caracterizada pela combinação das formas acima descritas.

  • TOPOGRAFIA (SOUZA e FERRARETTO, 1998):

MONOPLEGIA: apenas um membro afetado.

DIPLEGIA: afeta mais os membros inferiores que os membros superiores. Geralmente a parte do cérebro afetado atinge o tracto piramidal, próximo dos ventrículos (a região peri-ventricular é muito vascularizada). Esta forma de PC geralmente ocorre nos bebês imaturos e geralmente conseguem ter uma marcha independente antes dos oito anos de idade.

HEMIPLEGIA: afeta um dos lados do corpo. É a forma mais freqüente de PC. As causas mais freqüentes são: alguns tipos de malformação cerebral, acidentes vasculares ocorridos ainda na vida intra-uterina e traumatismos crânio-encefálicos. As crianças apresentam bom prognóstico motor e adquirem marcha independente. Algumas apresentam um tipo de distúrbio sensorial que impede ou dificulta o reconhecimento de formas e texturas com a mão do lado afetado.

TETRAPLEGIA: afeta os quatro membros. Esta forma de paralisia geralmente está associada com problemas que determinam sofrimento cerebral difuso grave (infecções, hipóxia e traumas) ou com malformações cerebrais graves.

LEITE, Jaqueline Maria Resende Silveira; PRADO, Gilmar Fernandes do Prado. Paralisia cerebral Aspectos Fisioterapêuticos e Clínicos. Revista neurociências, São Paulo, v.12, n.1, 2004.

SILVA, Mônica Giacomini Guedes. A persona do analista frente a necessidade de definição de uma conduta médica. Rev. SBPH. Rio de Janeiro, v.9, n.1, jun., 2006.

SOUZA, Ângela Maria Costa. FERRARETTO, Ivan. Paralisia Cerebral: Aspectos Práticos. São Paulo: Memnon, 1998.